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A Educação pela Pedra

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 27 de fev. de 2018
  • 2 min de leitura

(João Cabral de Melo Neto)

Uma educação pela pedra: por lições; Para aprender da pedra, frequentá-la; Captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria Ao que flui e a fluir, a ser maleada; A de poética, sua carnadura concreta; A de economia, seu adensar-se compacta: Lições da pedra (de fora para dentro, Cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, E se lecionasse, não ensinaria nada; Lá não se aprende a pedra: lá a pedra, Uma pedra de nascença, entranha a alma.

Como acto de resistência, o poeta procura captar o objecto, pois a fidelidade tangível às coisas é, no corpo do poema, uma forma de conhecimento, um modo de apreender, através da linguagem, a lição do real. Este projecto faz do tratamento retórico e poético de um tema - e o tema por excelência, que todos condensa, é a pedra - a sua exploração cognitiva.

"Só duas coisas conseguiram / (des)feri-lo até a poesia: / o Pernambuco de onde veio / e o aonde foi, a Andaluzia. / Um, o vacinou do falar rico / e deu-lhe a outra, fêmea e viva, / desafio demente: em verso / dar a ver Sertão e Sevilha."

Este auto-retrato define as duas características principais desta poesia que quer, antes de mais, mostrar o fazer que lhe dá sentido: vacinado "do falar rico", João Cabral de Melo Neto é prosaico, "não enfático", procurando para a linguagem um rigor absoluto; nesta linguagem áspera, o objectivo é conter, no mesmo verso, Sertão e Sevilha: explicita-se aqui a ferramenta retórica - e cognitiva - que permite o tratamento do real pela linguagem: juntar o diferente, criar a relação que gera o inesperado, reequacionando, no corpo do poema, o significado da palavra e, também, extraindo do real uma lição ética, a lição do seco, a educação da pedra.

Poesia de coisas, que fala com coisas, despoetiza o poema para criar a nova, outra música, "a palo seco", a "antilira" de quem não gostava de música. Ou, como afirma João Cabral a propósito de Alberti: "foi da palavra à coisa: / árdua que seja, / ou demorada, a coisa; / seja áspera ou arisca, / em sua coisa, a coisa / seja doída, pesada, / seja enfim coisa a coisa.

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